sábado, 16 de janeiro de 2010

Hoje sinto-me... nostalgico

Dobrei a esquina de onde anteriormente tinha aparecido a tia Luísa. Uma onda de nostalgia incontrolável assolou-me o corpo e de repente vi-me outra vez com os meus 7, 8 anos a brincar naquele jardim das traseiras onde havia um baloiço vermelho com correntes de aço que rangiam estridentemente cada vez que eu me montava. Do outro lado da cerca, a observar-me estava a Susana… Ah, há quantos anos eu não a via, nem sei que será feito dela; ouvi dizer que tinha casado com um agricultor daqueles a quem lhe tinha saído ‘a sorte grande’ ao fazer um negócio com uma cadeia de supermercados, mas nunca tive a confirmação dela. E naquele momento lá estava ela, agachada contra a cerca pintada de branco, com a sua saia rodada verde, blusa branca e duas trancinhas no cabelo. Passando rapidamente pelo baloiço… vendo agora, não sei porque razão passei tão a correr pelo baloiço, acho que tive medo que o pequeno Eu me visse, que parvoíce… dizia, passando rapidamente pelo baloiço, galguei a cerca abruptamente e quando cheguei ao outro lado reparei que tinha ficado com uma ponta dela na mão. Era natural, afinal de contas a sua resistência já não é o que era, tal como eu. Aproximei-me com cuidado da pequena Susana e dirigi-me a ela num tom baixo:
- Olá… que estás a fazer? – perguntei-lhe.
- Estou a ver o Paulinho. Gosto muito dele, mas não lhe diga, está bem? – Confidenciou-me ela. Por aquela é que eu não esperava, também eu gostara muito da Susaninha em pequeno mas nunca lho dissera, nem a ela, nem a ninguém. Se eu tivesse sabido. Fiquei-me por ali a observar aquele rapaz que eu tinha sido. Lentamente as lembranças começaram a desvanecer. O baloiço pintado de vermelho e com as correntes de metal reflector deu lugar a um velho baloiço já coxo, visto ter uma perna mal assente no chão, de cor ferrugem pintalgado por um verde musguento e com uma corrente partida. A cerca branca era agora um pedaço de madeira castanha carcomida e irregular posta à volta de todo o jardim que rangia cada vez que aparecia uma rabanada de vento mais forte. A pequena Susaninha deu agora lugar a um fardo de palha no qual eu me ergui da minha posição ajoelhada e onde me sentei logo a seguir. “Aiii!” pareceu-me ouvir logo quando apoiei as minhas nádegas na palha seca. Levantei-me de um salto e murmurei “Desculpa Susaninha”. Ri-me. Ah aquela doce sensação de senilidade louca e saudável misturada com as minhas memórias da minha infância há muito perdida davam-me vontade de rir. Voltei atrás, até à esquina que tinha anteriormente dobrado para pegar nas malas que tinha deixado cair quando vi aquela maravilhosa recordação.

1 comentário:

  1. http://www.youtube.com/watch?v=j1FaymjyTa4
    Anuncio da gripe A...
    Simplesmente awesome... =D

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