sábado, 16 de janeiro de 2010

O desvio

E no entanto esta escolha arbitraria trouxe-me aqui, não sei bem onde, julgo que seja o fim… Mas fim de quê? Da minha história? Não! A minha história acaba quando eu acabar e mesmo assim não sabemos ao certo se será mesmo o fim. Pode ser apenas uma mudança, o começo de uma nova aventura, comparável a uma mudança de comboio numa estação; a nossa viagem naquele comboio não avança mais, está portanto na altura de mudar de linha. Que faço agora? Voltar para trás não posso, seria contra as leis da Natureza, será que fiz tudo o que me competia? E o que é que me competia fazer? Que há mais para a frente? Não sei o que fazer, cheguei a um ponto da minha história em que não posso… não! Não quero mover-me nem para trás nem para diante, quero apenas ser, estar e viver o agora! Mas o que é o agora? Um momento inexistente. O agora de há pouco não é o agora de agora, nem tão pouco aquele último agora é o de agora. O agora é um momento que pertence àquilo que está para trás e que virá do que está mais adiante. Parece que não posso evitar aquilo que vem e que passa. Quer queira, quer não queira, o agora é um momento que vem do fim, passa por mim e vai em direcção ao início. É como se fôssemos no tal comboio (comboio este que não podemos travar) e víssemos ao longe uma árvore, vamo-nos aproximando dela, cruzamo-la … e que mais? A partir daí só temos a memória do momento em que ela passa por nós, o momento a que chamámos ‘agora’ e ao qual agora chamamos ‘há pouco’. É assim que eu me sinto, num comboio que não pára, cada momento sendo uma memória, tal como a árvore. E à medida que vou avançando para o final da minha história… mas será uma narrativa aberta ou fechada? Será que a vida não é mais que um desvio das trevas que são a morte? Como se estivéssemos numa viagem sem fim e de repente tivéssemos de fazer um desvio para mais tarde retornarmos ao nosso percurso original? ‘Da terra vieste, à terra voltarás’, não é verdade? E é como se nesse desvio que fomos obrigados a fazer, estivéssemos a apreciar cada minuto da paisagem, a sentir coisas que antes não sentíramos, a amar, a odiar, a… a viver. Porque no fundo é isso que a vida é, um conjunto de emoções, mais nada. Podemos dizer mal, refilar, estar cansado, gostar, odiar, amar, desprezar, mas sentimos. E é por tudo isto que quando estamos quase a acabar o nosso desvio damos valor ao que experienciámos, às pessoas que sentiram tal como nós, às que estiveram sempre ao nosso lado… e às que nem tanto. E no fim de tudo lá estás tu. Tu que me fizeste amar perdidamente, ficar triste, irritado, nas nuvens… mas tu. És tu que ao longo destes anos me ensinaste a ser melhor e me fizeste crer que foi por ti que fiz este desvio. Tu que fazes com que este desvio que a morte nos deu seja algo mais. E é contigo que caminharei, em frente, não sei para onde ao certo. Será para o fim? Nunca se saberá. Apenas uma coisa é certa: tu caminhas a meu lado, quer voltemos para a rota inicial quer não, tu fazes-me sentir algo mais. Fazes-me amar-te e só por isso faz sentido viver.

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