sábado, 16 de janeiro de 2010

o fim do filme

Susan Boyers era o seu nome. Desde que se lembrava tinha estado entre os grandes de Hollywood, a sua mãe tinha-a levado para a ‘Cidade das Estrelas’ quando teria por volta de dois ou três anos, ou assim era a sua primeira memória, aquela que mais a marcou. Recordava-se de entrar no Grauman’s Egyptian Theatre no Hollywood Boulevard e de, apesar de não perceber muito bem o que aquelas pessoas estavam a fazer com ela, adorar aquele frenesi excitante que era ali era vivido. A sua infância e adolescência foram assim perdidas no meio de palcos e cenários, actores e realizadores, pessoas que entravam e saíam da sua vida sem deixar qualquer marca, isto claro, uns mais que outros. Mas uma pessoa estava sempre lá para Susan, um pequeno rapaz que com ela foi crescendo embora ela nunca tivesse dado conta da sua existência, era apenas mais uma cara conhecida mas que não ia e vinha como as outras. Certo era que, com tantas pessoas e coisas tão diferentes e tão efémeras, sentia-se como se um pedaço da sua vida tivesse sido apagado e estivesse agora no final de uma etapa sem saber como lá havia chegado como se tivesse acabado um filme e ela não soubesse o final. E essa etapa daria agora lugar a um novo começo. Com esse começo, mais uma vez ela tentava e desesperava por saber o processo e o final antes de se deparar com o ‘filme’ acabado e mais uma vez sem respostas. E o rapaz lá continuava. Já não era rapaz, mas agora um homem que embora entrasse em tudo, vivia à sombra da ribalta de outros que por lá passavam e ninguém o conhecia apesar de todos o conhecerem.
E no fim, quando pela enésima vez o filme acabava sem Susan saber qual o final do filme, lá estava o rapaz que já não era rapaz, e foi então que se deu conta. Todos aqueles esforços vãos para saber o final do ‘filme’ culminaram quando ela se apercebeu do verdadeiro final. Chegou-se ao pé do rapaz que já era homem.
- Olá… Susan Boyers… como te chamas? – perguntou a medo. Não era bem medo, era mais vergonha, embora não soubesse explicar porquê.
- Jeremy Stevenson. Prazer – respondeu com o sorriso que lhe rasgava a face. Pela primeira vez ele existia e ela sabia agora como acabava o seu ‘filme’.

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