sábado, 16 de janeiro de 2010

Some things never change

Aquela calmante melodia Jazz enchia o ar rouge do clube. Notas musicais eram vistas a voar apoiadas em ondulantes pautas invisíveis por todos os recantos do salão, iluminado por pequenos candeeiros com abajours de slofane bourdeau. O palco era o único local que estava com maior luminosidade, dois pequenos holofotes de luz branca faziam incidir a sua luz sobre um banco redondo de madeira no qual estava sentado um homem dos seus 40 anos que tocava os blues no seu saxofone dourado. As pessoas pareciam escutar aquela harmónica composição com uma atenção perturbadora, o seu olhar vidrado, sem expressão voltado para o centro do palco onde se encontrava o homem que tocava a sua alma sem sequer se preocupar com o que os ouvintes pensavam. Num recanto escuro desse mesmo clube, sentado num sofá de veludo vermelho escuro, estava um homem aparentemente absorto em si próprio, com uns headphones nos ouvidos, dos quais saía uma música que nada tinha a ver com o ambiente Jazz que ali se presenciava.
Lá fora chovia. Um cheiro pútrido alcançava as narinas do único ser que ali se encontrava vivo. Aquele cheiro nauseabundo deu-lhe um sorriso doentio. Levantou o punhal manchado de uma cor de rubi e olhava agora para aquela obra de arte avant garde que tinha feito. Gotas de sangue manchavam ora o chão, ora as suas calças que trazia. A sua linda cara estava tapada por um capuz e tinha-a pintalgada por várias pintas de pecado carmesim. Um relâmpago iluminou, ainda que por breves instantes aquela ‘peça’. Dezenas de cadáveres espalhados pelo chão, aparentavam fazer formas que à primeira vista não teriam qualquer propósito nem ordem. Ainda assim ela sorria.
O homem que se encontrava dentro do clube levantou-se, e aproximou-se lentamente do palco. De dentro da sua gabardina vermelha retirou uma arma de fogo, a qual apontou à cabeça do entertainer que tocava o seu instrumento. A música cessou. Levantou os olhos em direcção àquele homem recém-chegado e sorriu: -‘Demoraram mais tempo que o esperado, seus cães do Vaticano.’ O Homem colocou o dedo no gatilho e como últimas palavras que o músico ouviria proferiu. –‘O esquadrão 12 do Vaticano nunca se atrasa, chega sempre à hora que decidiu. A Princesa já deve ter terminado com os teus amigos. Boa viagem, vais voltar para o sítio de onde vieste.’ E sem mais dizer premiu o gatilho e a cabeça do homem desfez-se. Antes que os ouvintes despertassem da hipnose, apressou-se a sair pela porta traseira em direcção à Princesa. Tal como tinha previsto, já havia acabado o serviço.
Ela viu-o sair do clube. –‘ ‘Tava a ver que não. Vamos meu Príncipe Negro?’ –‘Vamos minha Princesa Encantada. Estes demónios não aprendem a deixar-se estar sossegados. O Papa vai ficar aliviado por saber que mais uma vez o Esquadrão Iscariote fez o que tinha a fazer.’

Os créditos rolam no final. Susan levanta-se e sai do cinema, mais uma vez sem perceber o final do filme. Some things never change.

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