sábado, 16 de janeiro de 2010

No named man

E como toda a gente que se preze tem um nome, vou vos dar a conhecer uma pessoa cujo nome não existe, é apenas ele. As pessoas tratam-no por ‘Oh tu’ ou simplesmente ‘psshht’. Nenhum dos seus supostos ‘amigos’, ou melhor dizendo, conhecidos, sabe o seu nome. Verdade seja dita, nunca fez questão de o dizer, talvez porque também nunca tivera a certeza de qual era o seu verdadeiro nome. Em pequeno ouvia os seus pais chamar por um nome com o qual não se identificava - e é assim, ou o teu nome te assenta que nem uma luva e tu te revês nele, ou nada feito – e como cada vez que o chamavam por esse nome Ele não respondia começaram a apelidá-lo de ”o mai’ novo”.
Quando entrou para a escola sentava-se num canto, sozinho, lamentando a sua triste sina, como todos aqueles que vão de novo para a escola fazem. Foi assim alcunhado de ‘ó miúdo aí do canto’. Os anos passaram e a sua (in)existência foi continuando, uma alcunha atrás da outra. E as alcunhas não são como nomes, são uma espécie de substitutos que embora algumas vezes assentem como uma luva à pessoa, na maior parte das vezes serve para fazer troça ou apenas incomodar a determinada pessoa, como foi o caso d’ Ele. Ele era ‘ó tu!’ para aqui, ‘rapazola!’ para ali mas nunca teve um nome definido. A princípio achava que isso até não era uma má coisa, era um rapaz diferente de todo o mundo, ‘O rapaz a quem todos chamam alguma coisa mas que não se chama coisa nenhuma’. Era assim que ele se via e, diga-se de passagem, até lhe agradava tal pensamento. Mas ainda assim Ele sentia que lhe faltava algo, não sabia o quê. Ele que até era um homem abastado, com uma vida algo luxuosa, tinha uma linda mulher chamada Linda, duas adoráveis crianças cujos nomes eram Ana e António… Era disso que Ele sentia falta! Um nome, apesar de ser diferente do resto do mundo, era essa mesma diferença que o fazia inexistir. Se chamado de todos os nomes e de nenhum era algo pelo qual nenhuma pessoa deveria passar. Não poder ser chamado pela sua mulher pelo seu verdadeiro nome, porque pensando bem, Ele até gostava de fazer os trocadilhos com o nome da mulher.
- És Linda. – Dizia-lhe. A sua mulher olhava-o então nos olhos, ria-se e respondia:
- És tãããããão patego! – Esboçando um sorriso de regozijo que iluminava a sala. Nem os seus filhos sabiam o seu nome. Era apenas ‘Pai’ para os filhos e ‘Amor’ para a mulher. Não que ele não gostasse de essas ‘alcunhas’ que não sendo bem alcunhas, são mais nome do que aquele que ele não tinha.
Saiu do carro, trazendo os sacos das compras. Tocou á campainha. Quem lhe abriu a porta fora a sua Linda mulher que estava já de camisa de dormir branca à sua espera.
- Olá Linda. – Disse-lhe Ele com um sorriso na cara.
- Olá amor. – Retribuiu ela.
- Amor, não por favor. Zé.
Linda esbugalhou os olhos e atirou-se para cima d´ Ele… perdão, de Zé e beijou-o com quanto amor tinha no seu ser.
- Amo-te Zé. – Zé… um nome tão vulgar e no entanto não era igual a nenhum outro. Um nome que o caracterizava, que o tirava da solidão da estranheza e o inseria na imensidão de gente chamada Zé. Mas ainda assim, embora encontrando-se agora ‘perdido’ no meio de tantos Zé, ele tinha achado a peça que lhe faltava. A sua única e verdadeira essência.


Luís Santos nº 24543

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